Tensão na Bolívia e reação popular

Recentemente a Bolívia viveu um golpe de Estado. Mais um em sua história. Forças de extrema direita, associadas a um candidato fragorosamente derrotada nas eleições, parcelas das Forças Armadas, grupos fundamentalistas religiosos e setores da classe média se combinaram nesta ação. A estabilidade política e econômica alcançada durante a gestão Evo Morales foi minada pelo […]

19 de novembro de 2019

Recentemente a Bolívia viveu um golpe de Estado. Mais um em sua história. Forças de extrema direita, associadas a um candidato fragorosamente derrotada nas eleições, parcelas das Forças Armadas, grupos fundamentalistas religiosos e setores da classe média se combinaram nesta ação.

A estabilidade política e econômica alcançada durante a gestão Evo Morales foi minada pelo preconceito que alimenta a ação dos golpistas. O caos tomou conta do país. Por causa dos conflitos, 23 pessoas já morreram e há milhares de feridos. Em La Paz, há escassez de alimentos e combustíveis em razão do bloqueio de estradas.

A autoproclamada presidenta da Bolívia, Jeanine Áñez, legítima representante das elites, assumiu num segundo golpe, com o Congresso esvaziado e a Bíblia nas mãos.

As elites bolivianas, vitaminadas por suas posturas racistas e preconceituosas em relação aos povos originários, trocaram a estabilidade inédita alcançada com o governo Evo, pela balbúrdia generalizada. Há que se frisar que Evo concordou em convocar novas eleições, mesmo assim o golpe foi a opção dos grupos ultrarreacionários que se amotinaram.

Mas o que se vê é a rearticulação das massas de trabalhadores, movimentos indígenas, camponeses, população de menor renda que desce os altiplanos de Em Alto em direção ao centro de La Paz em movimentos amplos e gigantescos. Os vídeos que circulam são marcantes.

Sucre, Potosí e Oruro também registraram passeatas repletas de gente, tomando as ruas e reclamando a volta da ordem institucional e bradando contra os golpistas.

Jeanine Áñez faz ameaças a Evo, ameaçando prendê-lo caso volte à Bolívia, mas isto somente tem acirrado os ânimos. A pretensa presidenta deveria se preocupar em devolver o trono aos seus ocupantes legais e legítimos, que saíram vitoriosos das urnas e tem o respaldo da sociedade.

A Alta Comissária de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU), Michelle Bachelet, condenou veementemente neste último final de semana (16/11) “o uso desnecessário e desproporcional da força pela polícia e pelo Exército” que pode fazer com que a situação na Bolívia “saia do controle”.

A repressão violenta das manifestações de ruas mostra exatamente quem tem compromisso com a democracia. Quando espocaram atividades de rua contra Evo, praticando atos de destruição de bens públicos, ateando fogo nas ruas e atos de violência contra indígenas, o Exército não recebeu ordem para agir com violência contra os manifestantes. Não é o que se observa agora.

É preciso manifestar irrestrita solidariedade ao povo boliviano e a retomada do processo eleitoral. Novas eleições devem acontecer com a participação ampla da sociedade.

Não podemos ignorar o recado dado pela direita reacionária, autoritária e fascista que se organiza na América Latina, despejando ódio contra os pobres, preconceito contra a diversidade e desrespeito à democracia.

O povo boliviano havia encontrado seu caminho. Que ela seja retomado.

Ivan Valente

Deputado Federal PSOL SP

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